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 CONTEÚDO 

ZENGAKUREN: O MOVIMENTO ESTUDANTIL NO JAPÃO - Kyohei Takahara


Legenda: ilustração sobre os Zengakuren realizada por Ozan Aktuna, publicada em 13 de maio de 2019. Conheça os trabalho do ilustrador aqui.


Apresentamos o último texto do programa Maio Insurgente, realizado conjuntamente com a editora parceira Sobinfluencia, que apresentou desde a primeira semana de maio de 2020 até a última 8 textos relativos aos maios de luta ao redor do mundo, 4 textos neste blog e 4 no de lá. O presente ensaio é a tradução, realizada pelo amigo Gustavo Racy, de uma fala do atual "presidente" de uma das novas formações (ou vertentes) do movimento Zengakuren, movimento que luta contra o imperialismo no Japão desde 1940 por meio da internacionalização dos estudantes revolucionários do país. Esta fala foi realizada em um congresso na Universidade de Berkeley (I) durante a primeira semana de março de 2010, e nela se poderá perceber uma característica de abrandamento do discurso e um entendimento negativo de outros agentes radicais do Zengakuren em 1960, como o grupo Kakumaru, também importante na história do movimento. Foi nesse período que obtiverem reconhecimento internacional, por mobilizarem milhares de estudantes e trabalhadores japoneses às ruas contra a guerra e as bombas nucleares.



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Irmãos e irmãs! Gostaríamos de agradecer o convite para que nos juntemos a sua vigorosa luta, bem como por nos receber calorosamente em meio a dias turbulentos. Estou convencido de que nosso encontro com vocês, alunos e trabalhadores lutadores da Universidade de Berkeley, orgulhosos de sua longa história de luta militante, não aconteceu por acaso, mas por necessidade, porque nós, no Japão e nos EUA, temos lutado a mesma luta contra um inimigo comum simultaneamente. Em uma palavra, somos camaradas. Este é um primeiro passo significativo na construção da solidariedade internacional. Nós compreendemos totalmente a importância desta oportunidade e estamos firmemente determinados a desenvolver nossa solidariedade ainda mais.

Nosso ponto de partida fundamental e prático de olhar para nossa história

Meu tema hoje é a história do Zengakuren, o movimento estudantil japonês. Eu gostaria de desenvolver meu discurso pela perspectiva de um esclarecimento de nossa tarefa e dos nossos problemas no Japão de hoje e não simplesmente olhar para o passado.

Em todo mundo, somos confrontados com a tarefa comum de lutar contra a ofensiva neoliberal, isto é, uma tentativa desesperada do imperialismo em aprofundar a crise para promulgar a guerra, a revisão reacionária da Constituição (ou o sistema e método em exercício), a privatização e o desmantelamento sindical. Uma destruição geral do emprego, da seguridade social, da educação e de outras instituições sociais é o objetivo e o conteúdo do neoliberalismo. Estes ataques ultrajantes estão despertando as classes trabalhadoras ao redor do mundo para que se levantem e lutem. Como o neoliberalismo é uma escolha inevitável do sistema capitalista, a luta contra ele nunca acaba até que o mundo inteiro seja fundamentalmente transformado.

A Universidade Hosei, nosso campo de batalha em Tóquio, foi totalmente transformada num instrumento de produção de dinheiro, no qual uma quantia enorme de dívida é imposta aos alunos por meio de taxas exorbitantes e no qual alunos combativos que buscam justiça e liberdade no campus são perseguidos, presos e punidos em nome da “educação”. O encarceramento de 118 alunos nos últimos quatro anos, entretanto, não nos fez retirar de nossa luta constante.

Aprendemos por nossas experiências que estudantes e trabalhadores possuem um tremendo poder para superar todo tipo de dificuldade quando se unem. E não pode haver nenhum outro modo de alcançar a unidade do que confrontar as adversidades de maneira resoluta e sem hesitação. Também aprendemos que a luta nos ajuda a trabalhar políticas fundamentais e alcançar entendimento sobre o mundo e a época, necessário para que continuemos nosso movimento. É somente pela luta real que a liderança política pode nascer para a materialização desta orientação. Devemos estar cientes de que, sem exceção, cada estudante e cada trabalhador tem a habilidade de alcançar esta tarefa. A vitória numa luta depende inteiramente da capacidade da liderança em encarar dificuldades, inteiramente convencida destes princípios, confiando em colegas estudantes e trabalhadores. Minha convicção é a de que somente o poder unificado do povo pode mudar a história. Esta é a implicação subjacente a todos os argumentos.

A crise econômica global está diante de nós. É a nossa era. Nos anos 1930, a época da Grande Depressão de 1929, ainda que o desemprego em larga-escala e a guerra imperialista tivessem movimentado trabalhadores e estudantes a se levantar em nome de uma luta global, o movimento internacional de trabalhadores, assim como os movimentos estudantis, foram terrivelmente derrotados pelo New Deal nos EUA e pelo Nazismo na Alemanha, acabando por ser mobilizado para a guerra mundial. Esta derrota se deu essencialmente pela traição Stalinista que transformou a Rússia revolucionária, bastião de uma revolução socialista mundial.

Agora, nos vemos diante de uma encruzilhada história e nossa prática revolucionária é testada caso nos permitamos repetir a tragédia da história mais uma vez ou, igualmente, se dermos um grande salto adiante de nossa própria história. Para estarmos a par desta séria demanda, necessitamos uma revitalização dos sindicatos, das organizações de massa estudantis e dos corpos estudantis autônomos que sejam militantes e poderosos e, ao mesmo tempo, uma construção de um partido operário que seja a liderança política destes movimentos de massa. Ao assumir esta tarefa, nós confirmamos uma vez mais que a história de Zengakuren é um esforço para a construção de uma liderança genuína através da organização massiva de levantes estudantis.


Legenda: imagem captada em 1971 em uma das marchas do movimento em Tóquio.


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I

Zengakuren nasceu como resultado da greve geral estudantil contra a guerra e a privatização.

A derrota da revolução pós-guerra: greve geral (frustrada) de 1 de fevereiro de 1947.

O colapso do imperialismo japonês na Segunda Guerra Mundial, declarado a 15 de agosto de 1945, disparou um surto tumultuoso de movimento entre a classe operária japonesa e os estudantes, que foram liberados do feitiço do Bonapartismo Tenno-sei (sistema Imperial). Sindicatos foram organizados um após o outro através de toda a nação, em geral sob a liderança do Partido Comunista Japonês (PCJ). Trabalhadores começaram a controlar a produção diante de sabotagens dos sistemas burguêses que se davam em todo o Japão pós-guerra e o movimento trabalhista cresceu e se desenvolveu rápida e massivamente até um clímax em de fevereiro de 1947, data planejada para uma greve geral. Para confrontar estes movimentos poderosos, o Quartel General (QG) das forças de ocupação estadunidenses ordenou a proibição de greve e a greve geral planejada foi subitamente suspensa. Líderes do PCJ que consideravam que as forças de ocupação dos EUA eram liberadoras cederam à proibição e a greve geral foi abortada. Este é o dia que marca a derrota da revolução pós-guerra do Japão.

Fundação do Zengakuren (Federação de Corpos Autônomos Estudantis de todo o Japão)

O movimento estudantil japonês do pós-guerra começou em meio a uma sensação geral de frustração após a falência da greve geral. Os estudantes demandavam primeiramente a expulsão dos professores que haviam desempenhado um papel criminoso na guerra imperialista passada e a reabilitação dos professores progressistas que, ao contrário, tinham sido expulsos das universidades durante a guerra por conta de seu pensamento autônomo. Este movimento significou uma luta para retomar o campus e os dormitórios estudantis do julgo da direção militar e direitista para recuperar a independência e a liberdade acadêmicas. O segundo tópico da luta era a defesa e a reconstrução da educação, incluindo uma demanda para a cobertura de despesas para o reparo de prédios universitários danificados durante a guerra. No desenrolar destes movimentos, os estudantes começaram a estruturar organizações estudantis independentes, ou corpos estudantis autônomos como organizações compreendendo TODOS os estudantes de cada universidade.

Entretanto, o quartel general planejou transferir universidades públicas (com exceção das sete “Universidade Imperiais”), para as cidades locais e entregá-las ao controle de bancos e grandes corporações, pareadas a um esquema de aumento de mensalidades a um preço três vezes maior. De 23 a 26 de junho de 1948, a greve geral foi levada adiante contra este plano, contando com a participação de 300.000 estudantes de 116 universidade japonesas. Suas demandas eram: “Nenhuma transferência de universidades públicas às cidades locais! Parem o aumento de mensalidades! Abaixo ao aumento no custo do transporte férreo!”. A greve geral nacional deu origem à Zengakuren (Federação de Corpos Autônomos Estudantis de todo o Japão), como uma organização nacional extensiva com orientação política progressista, envolvendo todas as universidades e colégios técnicos e 70% das universidades privadas de todo o Japão. Foi fundada em 18 de setembro de 1948. Em 24 de maio de 1949, a luta dos estudantes já havia se desenvolvido em outra greve geral, da qual participaram 139 universidades. Neste dia, o governo foi forçado a desistir do plano e a Zengakuren continuou sua luta pela retirada da punição dos estudantes organizadores das greves universitárias.

Agora, nos víamos em face do esquema governamental Dohusei (Sistema de Governo Local de Ampla Abrangência), que incluía um plano de transferência de universidades à cidades locais e, ao mesmo tempo, privatização da educação (uma tentativa de reduzir a educação a uma ferramenta de lucro para a iniciativa privada; é isto a privatização). O desenvolvimento do pós-guerra nos rememora que a guerra e a privatização da educação eram os pontos de partida originais da Zengakuren e nos ensina que a luta para a defesa da educação num confronto intransigente contra a classe capitalista nos dá uma oportunidade importante para atingir uma ampla união entre os estudantes.

Vitória da luta contra o “Expurgo Vermelho” e degeneração do Partido Comunista Japonês (PCJ)

Em julho de 1949, o General MacArthur emitiu do QG uma diretiva para o “Expurgo Vermelho” (versão japonesa do McCartismo), em preparo para a Guerra da Coreia, declarando que “o Japão é uma fortaleza contra o avanço oriental do comunismo”. Membros do partido comunista foram demitidos em grandes números por ordem do QG, baseada em informação dada pela lista de membros de PCJ. A liderança do partido obedeceu a ordem sob “a Lei Regulamentar de Organizações e Similares” e apresentou a lista dos membros ativos do partido às autoridades! Enquanto isso, o Dr. Eels veio dos EUA para realizar visitas às universidades nacionais dando palestras anticomunistas. Estudantes da Zengakuren se levantaram em ações de protesto contra e conseguiram parar suas palestras nas Universidades de Tohoku e de Hokkaido.

A Guerra da Coreia estourou em 25 de junho de 1950 e o QG ordenou o desmanche da Zengakuren. Em desafio a essa repressão, a Zengakuren organizou triunfantes ações anti-guerra em diversos campi universitários. Alunos da Universidade Hosei boicotaram exames a partir do dia 25 de setembro, sendo seguidos pelos alunos da Universidade Waseda, que organizara um protesto antiguerra com 3.000 participantes, lutando contra a polícia que invadia o campus. Nesta luta, 143 alunos foram presos e 86 foram punidos. Esta luta militante, massiva e vitoriosa da Zengakuren desembocou no movimento de protesto contra o Tratado de Paz Japão-EUA e a Lei de Atividades Anti-subversivas.

Na direção oposta a estas lutas militantes massivas da Zengakuren, a liderança do PCJ estava, no momento, miseravelmente assustada pela Lei de Atividades Anti-subversivas e promoveu uma tentativa desesperada de suprimir a luta massiva da Zengakuren por meio da medida vergonhosa de excluir 38 líderes Zengakuren ligados ao Partido.

A crítica do Cominform (Bureau de Informação Comunista, organização Stalinista Internacional), contra o PCJ em janeiro de 1950, produziu uma divisão incisiva dentro do partido. Depois de se engajar brevemente numa “luta de coquetel-Molotov”, o PCJ finalmente acabou adotando uma linha partidária claramente “Parlamentarista” em sua 6ª Conferência Nacional em 1955. De acordo com a política do PCJ, o movimento estudantil deveria lidar somente com demandas imediatas triviais relacionadas às massas estudantis. A Zengakuren teve, portanto, que se confrontar com uma tal liderança do PCJ durante todo seu desenvolvimento. Deve-se notar que a Zengakuren manteve sua posição em favor aos estudantes e dos movimentos estudantis organizando a classe cuja consciência sobre a luta de classes seria edificada em dez anos, e que reagem de forma sensível à guerra, podendo assim agir por um senso de justiça próprio desta classe enquanto o PCJ insistia que a classe estudantil seria absorvida e integrada à classe dominante, esterilizando-os.


Legenda: conjunto de imagens captadas durante as manifestações de 1968 em Tóquio.


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II

O nascimento do Movimento Anti-Stalinista e a luta Ampo (Tratado se Segurança Nipo-Estadunidense) em 1960.

O impacto da Revolução Húngara e o início do Movimento Anti-Stalinista

Em 1956, trabalhadores húngaros se insurgiram contra o regime Stalinista, sendo brutalmente suprimidos. Em 1957, em Niigata, situada no nordeste do Japão, trabalhadores das ferrovias nacionais levaram adiante greves militantes em confronto com a liderança do PCJ. Estes dois eventos significativos deram origem a um grupo político que clamava dar continuidade à luta de Trotsky contra Stalin. Assim, uma posição fundamental do anti-Stalinismo era finalmente estabelecida pela contestação Trotskista da dogmatização que recorria ao "entrismo" (uma linha política de reforma da organização Stalinista que propõe disputar o poder para implodi-lo “por dentro", abandonando o estabelecimento de um partido dos trabalhadores revolucionário independente). [Isto resultou na fundação da Liga Comunista Revolucionária do Japão (LCRJ) em 1957].

Sob influência significativa destes desenvolvimentos, a Zengakuren foi gradualmente radicalizada em seu confronto contra o PCJ central, lutando no movimento de Sunagawa contra a expansão da Base Aérea Tachikawa dos EUA, no subúrbio de Tóquio, bem como a luta dos trabalhadores da educação contra a "avaliação de performance".

Surto da luta Ampo (Tratado de Segurança Nipo-Estadunidense), nos anos 1960

A luta Ampo de 1960 foi deflagrada pela batalha do dia 27 de novembro de 1959 na qual a Zengakuren correu até os terrenos Diet (Parlamento) superando o freio do PCJ. O movimento contra a revisão da Ampo (Tratado de Segurança Nipo-Estadunidense) ganhou força pelo impacto desta luta, atingindo seu clímax em 15 de junho de 1960 quando 5.8 milhões de trabalhadores e estudantes se levantaram em ações de protesto e 11.000 manifestantes cercaram o edifício do Diet. 1.500 estudantes militantes, pertencentes a uma mobilização geral de 15.700, forçaram a entrada por um dos portões e uma aluna da Universidade de Tóqui, a companheira KANBA Michiko, morreu durante a luta contra a polícia. Apesar desta luta, a revisão da Ampo foi ratificada pelo Diet à meia-noite do dia 19 de junho de 1960, enquanto trabalhadores e estudantes cercavam o edifício. Como resultado, a administração Kishi foi derrubada. O Partido Socialista e o Partido Comunista focaram seus esforços na resolução do problema através da discussão e do procedimento parlamentar com a intenção de suprimir um surto massivo de um povo furioso em movimento. Ao mesmo tempo, a grande luta dos mineiros de carvão de Miike, em Kyushu, no sul do Japão, contra a demissão em massa, também foi derrotada sob a liderança sindical reformista.

Pela construção de um partido dos trabalhadores genuíno


A luta Ampo de 1960 contribui para a destruição do “mito do PCJ” dominante. Um grande número de trabalhadores estudantes frustraram-se ao ver os quadros do PCJ fazendo piquete em frente à sede do Diet para prevenir que os manifestantes Zengakuren invadissem o prédio. (Naquela ocasião a seção japonesa da Quarta Internacional se juntou ao PCJ contra os manifestantes Zengakuren).

Nestas circunstâncias de fermentação política, a Liga Comunista (LC) que costumava exercer uma influência dominante sobre a liderança Zengakuren, não foi capaz de trabalhar uma política efetiva para sustentar a situação dos movimentos estudantis e operários. A linha política da LC era majoritariamente focada na superação do PCJ pela radicalização de suas táticas. Finalmente, a LC se dividiu entre posições divergentes sobre a luta Ampo e no fracasso em estabelecer uma orientação política comum. Eventualmente, uma parte significativa da LC, que foi persuadida pelo argumento da LCRJ de que era urgente “estabelecer um partido dos trabalhadores genuíno ao invés do Partido Socialista e do Partido Comunista", se juntou à própria LCRJ. Assim, deu-se um passo pela construção de um partido dos trabalhadores.

A luta contra os testes nucleares dos EUA e a URSS e a rixa com o Kakumaru, um grupo fascista

Em maio de 1962, o governo Ikeda publicou um plano de Reforma Universitária. Os Zengakuren se levantaram mais uma vez com uma greve geral contra essa nova ofensiva.

O argumento acerca dos testes nucleares dos EUA e da URSS causou uma divisão séria no movimento antinuclear japonês, há muito tempo sob a influência dos partidos Socialista e Comunista. A Zengakuren esclareceu sua posição de firme oposição tanto contra os testes nucleares estadunidenses quanto contra os testes soviéticos e convocou ações de protesto massivas de estudantes e trabalhadores, declarando que somente a solidariedade internacional dos trabalhadores poderia eliminar definitivamente a guerra e a bomba nuclear. Isto levou a um levante de luta antinuclear.

No curso destes desenvolvimentos, confrontado com a tarefa desafiadora de construir um partido dos trabalhadores genuínos, uma parte da LCRJ que se recusou a levar adiante a tarefa debandou e, mais tarde, tornou-se um grupo fascista.


Legenda: conjunto de imagens captadas durante as manifestações de 1968 em Tóquio.

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III

Reconstrução da Zengakuren: da Luta Haneda de 8 de outubro de 1967 às Lutas de Okinawa e Ampo em 1970.

A luta Haneda de 8 de outubro de 1967.

A luta contra o Tratado Nipo-Coreano de 1965, bem como a luta contra Guerra do Vietnam, levaram a um novo levante do movimento estudantil e de jovens trabalhadores. Iniciado pela luta estudantil contra taxas mais altas na Universidade Keio em 1965, a raiva acumulada dos estudantes se espalhou por outras universidades através do país, abordando os problemas como alojamentos e moradias estudantis, entradas ilegais na universidade, comercialização do ensino universitário, entrada de forças policiais no campus, e coisas semelhantes. Entre outros grupos, os alunos da Universidade Pública de Yokohama se levantaram para a luta em dezembro de 1965, organizando uma greve em janeiro, seguida a manifestações diárias com a participação de 5000 alunos que resolveram seguir um currículo estudantil independente.

Os Zengakuren que experimentaram tempos difíceis desde a derrota da luta Ampo em 1960, seguida pelo racha na esquerda gradualmente recuperou seu poder massivo e promoveu uma reconstrução organizacional. Em 8 de outubro de 1967, estudantes militantes da Zengakuren apareceram adornados de capacetes na entrada do Aeroporto de Haneda, pondo-se a marchar até o aeroporto para impedir a viagem do então Primeiro-Ministro Sato ao Vietnam. Mil estudantes se confrontaram com duzentos policiais e um aluno da Universidade de Kyoto, o camarada Yamazaki, foi morto. A batalha de Haneda anunciou publicamente “o nascimento da nova esquerda”, com 600 manifestantes feridos e 58 presos. Um grande número de alunos, impactados pela morte de Yamazaki, se levantou para lutas uma após a outra: lutaram contra a visita do avião cargueiro nuclear estadunidense ao porto de Sasebo, em Kyushu, no sul do Japão; se juntaram à luta dos fazendeiros em Sanrizuka contra a construção do Aeroporto de Narita. Em 1968, alunos da Universidade Nihon e da Universidade de Tóquio, deram início ao movimento Zenkyoto (Comitê de Luta Unida de Todos os Campi), que mais tarde levaria à ocupação do Auditório Yasuda da Universidade de Tóquio, em janeiro de 1969.

Estouro da Luta Ampo/Okinawa de 1970

Sob ocupação dos EUA desde o final da Segunda Guerra Mundial, e servindo como base para a Guerra do Vietnã, a ilha de Okinawa viu seu povo se levantar demandando a retirada das bases estadunidenses do território, bem como retorno da ilha ao Japão. Encabeçando o movimento, trabalhadores das bases militares programaram uma greve em protesto à racionalização das bases e dispensas e para parar o arranque de bombardeiros estadunidenses. Seu slogan era: “As bases devem morrer, não os trabalhadores!”. A população de Okinawa se enfureceu com a política japonesa de retorno da ilha ao Japão com a condição de que as bases estadunidenses permanecessem no território. Os movimentos então aumentaram as demandas: “Não à ratificação do traiçoeiro Acordo de Retorno de Okinawa”. A Zengakuren organizou sua política no seguinte slogan: “Tomem de volta Okinawa! Abaixo a Ampo e o imperialismo japonês!”; e se pôs a organizar protestos massivos. A 11 de novembro de 1971, todas as ilhas de Okinawa entraram em greve, à qual foi somada a Batalha de Shibuya, no centro de Tóquio, levada adiante pela Zengakuren junto a jovens trabalhadores em desafio à invocação da Lei de Atividades Anti-Subversivas, que declarava a proibição de manifestações e passeatas em Tóquio. A luta Ampo/Okinawa de 1970 se desenrolou numa luta maior, na qual milhares de manifestantes foram presos.

Iniciativa nas mãos dos trabalhadores e estudantes que se manifestaram em favor de seu próprio partido político.

A Luta Ampo/Okinawa de 1970 foi lutada em confronto direto com a estrutura dominante do imperialismo japonês, que havia sido dependente de uma política traiçoeira de advocacia de uma Construção pacífica, por um lado, enquanto excluía Okinawa da validez da Constituição de forma a levar adiante uma política de guerra. O Partido Socialista e o Sohyo (Conselho Geral de Sindicatos do Japão), promoveram em vão um esforço desesperado para suprimir a greve geral de Okinawa. A luta de jovens trabalhadores e estudantes se tornara poderosa demais para mudar a estrutura existente do movimento laboral e promoveu um esforço de erigir uma liderança genuína ao invés de uma liderança tradicional do trabalho sob a influência do OS e do PCJ.

Dando-se conta do perigo eminente do poder crescente dos jovens trabalhadores e estudantes se manifestando ao redor de uma nova orientação revolucionária, o governo japonês aplicou a Lei de Atividades Anti-Subversivas à LCRJ e à Zengakuren, cujo presidente foi preso junto a camaradas da LCRJ. Camarada Hoshino Fumiaki, que lutou na Batalha de Shibuya em 14 de novembro de 1971, foi indiciado pelo suposto assassinato de um policial e sentenciado à prisão perpétua. Apesar de todas as evidências de inocência, Hoshino está detido há 35 anos, lutando contra os feitos ultrajantes do Estado na prisão de Tokushima. No curso de um confronto intenso com o poder do Estado nos anos 1970, o Kakumaru, grupo fascista, começou a assaltar violentamente estudantes militantes e trabalhadores, tudo sob proteção policial.


Legenda: capas fotografadas por Collecting Comics Worldwide das três primeiras edições do mangá Garo, de 1964, de Shiratozanpei, publicação mais importante do período em forma de quadrinhos para adultos, que apresenta o movimento Gegika, altamente influenciado pela juventude radical Zengakuren.


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IV

É lançada a ofensiva neoliberal: a batalha decisiva na Ferrovia Nacional e na Sanrizuka.

Os tempos mudaram: 1974-75, Crise Econômica Mundial e derrota dos EUA na Guerra do Vietnam.

A Crise Econômica Mundial de 1974-75 foi a primeira crise mundial simultânea do pós-guerra. O neoliberalismo surgiu aí para marcar o ponto de virada do desenvolvimento do jugo imperialista. Em 1975, no Japão, a União dos Trabalhadores da Ferrovia Nacional (UFN) levaram adiante uma greve de oito dias demandando a retomada do direito à greve (que era inexistente por lei). Mas o resultado não vingou e isto significou o fim do movimento laboral que havia confiado no alto crescimento da economia capitalista japonesa.

Em 1981, alinhado às políticas tomadas por Ronald Reagan nos EUA e Margaret Thatcher no Reino Unido, o governo Nakasone forçou a Divisão e Privatização das Ferrovias Nacionais, destruindo 100.000 empregos. Sua intenção declarada em atacar o NRU (maior sindicato do Sohyo) era “destruir a Sohyo e, depois, o Partido Socialista (...) para escantear os sindicatos através da reforma administrativa e colocar a Constituição [revista] em seu devido lugar”; em outras palavras, quebrar os sindicatos e promover um revisionismo constitucional e de guerra. Kakumaru, o grupo fascista com influência dominante na Doro (Sindicato Nacional dos Motores Ferroviários, hoje JR-Soren [= JRU, Confederação Japonesa dos Trabalhadores Ferroviários]), defendeu a política de privatização e cooperou abertamente com a administração das demissões.

Greves salariais Doro-Chiba: começa a luta de 1047 trabalhadores ferroviários demitidos.

Para lutar contra a ofensiva, a Doro-Chiba organizou greves de 1985 adiante sem ser intimidada pela reprimenda administrativa de demissão de 40 membros do sindicato por conta das greves. Encorajados por essa luta, 1047 trabalhadores das ferrovias nacionais que foram injustamente demitidos no curso da privatização, começaram a lutar por sua readmissão. Estas lutas tiveram um papel significativo na luta contra a ofensiva privatizadora e na prevenção da reorganização do movimento laboral para um viés de direita.

A luta universitária se junta à luta dos trabalhadores das ferrovias nacionais e à dos fazendeiros em Sanrizuka.

No rescaldo das lutas da década de 1970, uma série de medidas repressivas foram adotadas pelas administrações dos campi universitários: transferência das universidades aos subúrbios, privação do direito à autogestão dos campi e alojamentos estudantis, regulações severas dos festivais universitários, restrição da distribuição de panfletos e afixação de cartazes no campus, e etc. A luta na Universidade Tsukuba, recém construída nos subúrbios disparou ações de protesto no campus. Os alunos se juntaram, então, à luta da Doro-Chiba e lutaram a Batalha de Asakusa-Bashi em 29 de novembro de 1985: uma ação de guerrilha em apoio à greve da Doro-Chiba. Logo antes da batalha, em 20 de outubro de 1985, estudantes Zengakuren com capacetes lutaram em Sanrizuka contra a construção do Aeroporto de Narita, enfrentando a polícia em apoio aos fazendeiros da região. O então presidente da Zengakuren foi sentenciado a 16 anos de prisão por sua luta. As tentativas governamentais de suprimir o movimento estudantil saiu pela culatra quando cada vez mais estudantes se juntavam à linha de frente.


Legenda: fotografias do livro Zengakuren: Japan's revolutionary students”, editado por Stuart Dowsey e publicado pela The Ishi Press em 1970, publicadas pelo Angel Gonzalez, que pesquisa e divulga livros da esquerda radical na página Angels Lefty Books. A introdução do livro foi traduzida e publicada pela editora Sobinfluencia aqui.

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V

Da luta contra a Legislação de Emergência e a transformação das universidades públicas em “Entidades Administrativas Legais Independentes” à luta da Universidade Hosei.

Década de 1990: o colapso da União Soviética e o início da era da guerra mundial

O colapso do Stalinismo Soviético em 1990 deu origem a um novo período de competição violenta entre os poderes imperialistas mundiais. Nossa era foi levada de volta aos tempos das guerras imperialistas: guerra do Iraque, crise da Coreia, assalto aéreo à Iugoslávia, 11 de setembro e guerra do Afeganistão. Para lutar contra esses impulsos revolucionários os estudantes Zengakuren, junto aos sindicatos laborais militantes, organizaram lutas contra as novas diretrizes da Aliança de Segurando Nipo-Estadunidense, bem como contra as legislações emergenciais.

Ao mesmo tempo, diversas lutas foram levadas adiante nos campi universitários contra as tentativas de abolir corpos estudantis autônomos, dormitórios e habitações estudantis e mesmo para se opor à transformação das universidades públicas em “Entidades Administrativas Legais Independentes” (privatização da educação), em 2004.

14 de março de 2006, a crise e a luta da Universidade Hosei.


A Luta da Universidade Hosei foi disparada pela prisão de alunos por 200 agentes da polícia de segurança em 14 de março de 2006. Estes alunos queriam protestar contra a regulação de distribuição de panfletos e afixação de anúncios no campus. Logo a luta foi levada adiante pela demanda de retirada das punições de alunos dissidentes (expulsão ou suspensão universitária), e para denunciar a repressão das atividades no campus, desafiando a intimidação que levara a prisão de 118 alunos em quatro anos.

Conquistaremos a retratação da demissão de 1047 trabalhadores ferroviários e a mobilização de 10.000 trabalhadores e estudantes na Manifestação dos Trabalhadores de Tóquio, em novembro!

A ofensiva neoliberal produziu uma raiva crescente na sociedade como um todo. Devemos organizá-la em uma ação conjunta. Estamos convencidos de que nossa importante tarefa é a de originar líderes por meio da luta real, desenvolvendo suas habilidades em trabalhar políticas de luta e atingir um entendimento correto do mundo e da época, finalmente auxiliando de forma ampla as massas do estudantes para que adotem estes métodos como seus. Quando formos bem-sucedidos neste desafio, seguramente moveremos um surto explosivo na luta. O núcleo destes esforços e lutas é o pensamento e a prática marxistas.

Nós, da Zengakuren no Japão, estamos fortemente determinados a revitalizar o movimento estudantil e laboral de maneira poderosa.

É nosso honesto desejo aprender muito com sua luta nos EUA.

Promovamos nossa solidariedade internacional que acaba de começar de maneira forte!

Mais uma vez, obrigado.



Kyohei Takahara, 4 de março de 2010

tradução de Gustavo Racy



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Kyohei Takahara é estudante de Agricultura da Universidade de Tóquio. Sua descrição na página zegakuren.jp se da da seguinte forma: "O Japão está em uma etapa sem precedentes na história do pós-guerra. O que se pergunta é se a classe capitalista permite um estado de guerra ou um estado totalitário que prolonga o capitalismo na guerra. Ou a classe trabalhadora irá parar a destruição social e a guerra e tomar o poder? É um ataque completo que envolve revisão constitucional, substituição de imperadores e até mesmo os Jogos Olímpicos. Neste aspecto histórico, estou determinado à batalha final baseado na Universidade. Juntamente com a renovação do sistema do Comitê Executivo Central, realizaremos um maior desenvolvimento de toda a Universidade! Minha comida favorita é udon. O que eu não sou bom é em me apresentar."


Gustavo Racy é tradutor e editor da Sobinfluencia edições, e doutor em Ciências Sociais pela Universidade da Antuérpia. Especialista na obra de Walter Benjamin, dedica-se ao estudo da cultura visual em sua relação com a história e a política. Também escreve poesia, tendo publicado em periódicos literários.


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Notas da edição

* Título original: Uma curta história do Zengakuren, o movimento estudantil japonês I - No congresso realizado em março de 2020 na Universidade de Berkeley, os seguintes documentos foram apresentados pelo zengakuren.jp: Primeiro relatório: Sobre a história do movimento Zenkakuren no Japão; Uma Breve História de Zengakuren, Movimento de Estudantes Japoneses. Segundo relatório: Resumo da Batalha da Lei de 2009 e o Movimento e Desafios dos Estudantes Japoneses em 2010; Na luta pela Universidade de Hosei e sem movimento estudantil japonês 2009-Problemas e tarefas. Terceiro relatório: Vamos derrotar Obama, o chefe do imperialismo americano! Vamos parar a guerra com a unidade de trabalhadores e estudantes em todo o mundo!; Derrube Obama, Comandante Chefe do Imperialismo dos EUA!; Pare a guerra pelo poder de trabalhadores e estudantes dos EUA, Japão e todo o mundo!; Vamos nos levantar juntos pela luta para abolir armas nucleares e guerras do mundo!.


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Maio Insurgente

* Leia o outro texto do Maio Insurgente, publicado pelo Sobinfluencia, Zengakuren: a revolução estudantil japonesa: tradução da introdução do importante livro Zengakuren: Japan's revolutionary students”, editado por Stuart Dowsey e publicado pela The Ishi Press em 1970, dois anos após a maior insurreição do movimento no Japão.

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