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Formas amplas de Sabotagem
A sabotagem foi adotada e reconhecida pela Confederação Geral do Trabalho da França em 1897 como uma estratégia de luta contra os patrões. No entanto, a sabotagem, como uma forma de defesa instintiva, existia muito antes da sua oficialização e reconhecimento por parte de qualquer organização trabalhista. Sabotagem significa, em primeiro lugar: suspensão intencional da produtividade. Desacelerar e interferir na quantidade, realizar um trabalho malfeito e comprometer a qualidade da produção capitalista, prestar um serviço ruim. Não é violência física, trata-se de um processo interno ao ambiente, articulada dentro das quatro paredes do local de trabalho. Essas três formas de sabotagem — afetar a qualidade, a quantidade e o serviço — têm o objetivo de impactar o lucro do patrão. É uma maneira de prejudicar o lucro dele com o propósito de forçá-lo a conceder determinadas condições, assim como fazem com as greves, que têm o mesmo objetivo. É simplesmente outra forma de coerção.
Existem muitas formas de interferir na produtividade, qualidade e quantidade da produção, motivadas por diversos motivos — tanto patrões quanto trabalhadores utilizam a sabotagem. Os patrões interferem na qualidade da produção, na quantidade produzida, no fornecimento e no tipo de mercadorias com o objetivo de aumentar seus próprios lucros. Mas essa forma de sabotagem, a sabotagem capitalista, é antissocial, pois visa o benefício de poucos às custas de muitos, enquanto a sabotagem da classe trabalhadora é evidentemente social, pois busca o benefício de muitos em detrimento de poucos.
A sabotagem da classe trabalhadora é dirigida diretamente ao "chefe" e aos seus lucros, na crença de que isso é a sua religião, seu sentimento, seu patriotismo. Tudo está centrado em seu bolso, e ao atingir isso, estará atingindo o ponto mais vulnerável de todo o seu sistema moral e econômico.
Baixa Remuneração, Menos Trabalho. "Seja Ligeiro"
A sabotagem direcionada à quantidade é uma prática muito antiga, conhecida pelos escoceses como "seja ligeiro” [ca canny]. Todos os trabalhadores conscientes já tentaram isso em algum momento, quando foram forçados a trabalhar excessivamente e por longas horas. Em 1889, os estivadores escoceses estiveram em greve, a qual foi perdida, mas ao retornarem ao trabalho, enviaram um circular a cada estivador na Escócia e, nesse circular, resumiram suas conclusões e experiências decorrentes da amarga derrota. O conteúdo era o seguinte: "Os patrões sempre elogiam os fura-greve destacando seu trabalho dizendo o quanto são superiores a nós, pagaram pra eles o dobro do que pagam pra gente. Agora, ao voltar ao trabalho, decidimos que, já que esse é o tipo de trabalhador e de trabalho que eles preferem, faremos o mesmo. Deixaremos os barris de vinho passar pelos cais da mesma forma que os fura-greve fizeram. Faremos grandes caixas de artigos frágeis caírem no meio do cais. Faremos o trabalho com tanto desleixo, lentidão e destruição quanto fizeram. E veremos quanto tempo nossos patrões suportarão esse tipo de coisa". Após apenas alguns meses utilizando esse sistema de sabotagem, eles conseguiram conquistar tudo o que haviam tentado, sem sucesso, durante a greve. Essa foi a primeira declaração aberta de sabotagem em um país de língua inglesa.
Ouvi meu avô contar sobre um velho que começou a trabalhar na ferrovia, e o chefe perguntou:
– Bem, o que você pode fazer?
– Eu posso fazer quase tudo — respondeu ele, um companheiro grande e robusto.
– Bom, — disse o chefe — você sabe manejar uma picareta e uma pá?
– Ah, com certeza. Quanto você paga para esse trabalho?
– Um dólar por dia.
– Só isso? Bem, tá certo. Eu preciso muito do trabalho. Acho que vou aceitar.
Então, ele pegou sua picareta e começou a trabalhar com calma.
Logo, o chefe apareceu e disse:
– Diga, você não consegue trabalhar mais rápido do que isso?
– Claro que posso.
– Então, por que não faz isso?
– Esse é o meu ritmo de um dólar por dia.
– Bom, — disse o chefe — , vamos ver como é o ritmo de um dólar e vinte e cinco centavos por dia.
Isso melhorou um pouco. Então o chefe disse: "Vamos ver como é o ritmo de um dólar e cinquenta centavos por dia". O homem demonstrou. "Isso estava ótimo", disse o chefe, "bem, talvez possamos definir como um dólar e cinquenta centavos o dia". O homem então mencionou que seu ritmo de dois dólares por dia era "impressionante". Assim, através dessa sabotagem instintiva, esse pobre e obscuro trabalhador ferroviário no Maine conseguiu um aumento de um dólar para dois dólares por dia. Lemos sobre grupos de trabalhadores italianos que, quando o chefe corta seus salários – geralmente um chefe irlandês ou americano que gosta de ganhar alguns dólares extras para si, então ele reduz o pagamento dos homens de vez em quando sem consultar o contratante e fica com a diferença. Um deles cortou o pagamento em 25 centavos por dia. No dia seguinte, ele foi ao trabalho e descobriu que a quantidade de terra removida havia diminuído consideravelmente. Ele fez algumas perguntas:
– O que está pegando?
– Eu entendo inglês não — nenhum deles queria falar.
Ele passou o dia todo tentando encontrar alguém que pudesse explicar o que estava errado. Finalmente, encontrou um homem que disse:
– Bem, chefe, você reduz a remuneração, a gente, o trabalho.
Essa era a mesma forma de sabotagem — diminuir a quantidade da produção proporcionalmente ao salário ganho. Havia um pregador indiano que ia para a universidade e ganhava a vida à parte, pregando. Alguém o perguntou:
– John, quanto você ganha?
– Ah, só recebo 200 dólares por ano.
– Caramba, isso é um péssimo salário, John.
– Bem, — respondeu ele — é uma péssima pregação!
Isso ilustra a forma de sabotagem que estou descrevendo aqui, uma forma "seja ligeiro" de sabotagem, o slogan "vá com calma", ou "reduza o ritmo, não trabalhe tão duro". É uma inversão do lema da Federação Americana do Trabalho, aquela organização de trabalho "segura, sensata e conservadora". Eles acreditam em "um salário justo por um trabalho justo". A sabotagem é uma forma de trabalho injusto por um salário injusto. Uma tentativa dos trabalhadores de limitar sua produção em proporção à sua remuneração. Essa é uma forma de sabotagem.
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