COMBO HÁPTICO-NOTURNO — IMAGENS DA NOITE + MAIS UMA VEZ, SUBCOMUNS
Victor Galdino, Fred Moten & Stefano Harney
Imagens da noite — Ensaios sobre raça e racialização, Victor Galdino
No filme Space is the place, o músico-poeta Sun Ra se encontra com um grupo de jovens que, diante de suas estranhas e surreais vestes, de sua aparência outromundana, perguntam se ele é real, se é mesmo quem diz ser e como é possível verificar essa realidade. Ele diz: “Vocês querem saber como posso ser real? Não sou, sou assim como vocês [...] Não vim até vocês como realidade, vim como mito — porque é isso que as pessoas negras são: mitos”. Sua resposta é o ponto de partida — e, após longas voltas, uma série de experimentos e deslocamentos, também é ponto de chegada — deste livro. Tudo começa — e termina — levando a sério a peculiar resposta de Sun Ra, tomando-a como verdadeira em um sentido a ser descoberto. A partir disso, raça é pensada como um assunto propriamente filosófico em sua realidade imprópria, essa ficção que, de alguma maneira, tornou-se não apenas real, mas um meio de produção da realidade.
Mais uma vez, subcomuns — Poética e hapticalidade, Fred Moten & Stefano Harney
As expressões “subcomum” e “subcomuns” apontam para uma série de coisas que não são uma coisa só; muitas vezes, aparenta se tratar de um lugar, de um lugar a ser alcançado, onde nos encontraremos, enfim, em uma prática revolucionária, em que todos os males serão desfeitos — se isso é o que parece, devemos bagunçar os sentidos. O que queremos dos autores que admiramos? O que queremos dos textos que nos tocam? Uma solução? Uma redenção? Se podemos cogitar uma relação entre negridade e subcomunalidade, é preciso pensar o que foi a impossibilidade permanente da vida negra nas Américas — pode o começo abissalmente impróprio de uma existência impossível nos dar um de qualquer coisa? Já está tudo uma baderna desde o início. Coisa-nenhuma, em que ninguém pode satisfazer nosso desejo de uma certeza inabalável, de uma completude a ser nossa. É preciso seguir a batida e esquecer de si; esquecer das fantasias que nos alimentaram sobre ser uma coisa ou outra, ser-alguém, ter sucesso, aderir à civilização, progredir, marchar sobre a linha, produzir ao longo da linha, tornar-se um meio de expansão e aprimoramento da linha, eficiente, caixeiro-viajante, sonho do capital, cidadão pleno e apropriadamente humano.